InícioConheci esta moto nos meados dos anos 2000, quando fui fazer uma assistência técnica na casa do Sr. Ricardo Lino que morava Rua Ladislau Neto na zona sul de Porto Alegre.Foi amor a primeira vista.Ela estava parada em sua garagem, em um canto, coberta por um lençol, só aparecia uma parte de seus imponentes pneus. A curiosidade me tomou no mesmo instante.Nos longos anos que se sucederam, foram várias as vezes que perguntei, e questionei a respeito da venda. Sempre deixei explicito minha vontade de adquirir aquela linda moto.Certo dia, o Sr. Ricardo me ligou dizendo: Vem buscar a motinho!Nos acertamos no valor e trouxe ela para minha casa.Foi apenas o começo da História...DocumentaçãoEla ainda tinha a famosa e temida placa “amarela”, e o Sr. Ricardo nunca fez a transferência para o seu nome, ele tinha apenas uma procuração muito antiga e o DUT em branco além de algumas guias antigas de pagamento de IPVA.Fui no Detran para tentar fazer a transferência, mas não foi aceito devida a procuração ser muito antiga, do início dos anos 1980.Tive que começar uma pesquisa para tentar achar o proprietário que constava no DUT.A pessoa em questão chamava-se Gilbert Dulac, recorri ao Face book, consegui entrar em contato com o Sr. Gilberto, que foi extremamente cordial, e no outro dia, ele já estava comigo em um cartório para fazermos a transferência.O sr. Gilberto foi o primeiro proprietário dela e me contou muitas histórias da Dunna. Histórias estas que algumas vou relatar no decorrer deste texto.Com o DUT preenchido em meu nome e o restante da documentação, fui ao CRVA para fazer a vistoria e transferência. Na primeira vez que fui fazer a vistoria, a mesma foi negada por alegarem que seria uma moto inexistente, após levar a moto algumas vezes (06) e idos em torno de 06 meses, eu já estava perdendo as esperanças de conseguir emplaca-la, eis que resolvi escrever um texto relatando toda a história dela, texto este de minha autoria e que foi muito sucinto e muito bem escrito, após aguardar por muito tempo, consegui emplacar a Dunna.Hoje ela encontra-se emplacada, no meu nome, com toda a documentação em dia, podendo rodar tranquilamente, e consegui a placa com o ano de fabricação dela: 1981.Histórico e literaturaProcurei por muito tempo, e ainda procuro, literatura na internet, folders, ou qualquer outro meio para saber mais a respeito dela. Minhas frustrações são tamanhas, pois nada encontro em lugar algum, apenas os relatos que eu tinha eram verbais conseguidos com os Srs. Ricardo e Gilberto.Fui até a revendedora Simpala de Porto Alegre, lugar onde esta moto foi concebida, e eles não tinham nada de propaganda da época, tão pouco conhecimento da Dunna.Na década de 1980 a Simpala era uma revendedora da Honda em Porto Alegre.Tentei ver com a Honda se havia algo a respeito dela em seus arquivos e também não obtive êxito.Em conversa com um funcionário, de minha empresa, que mora no bairro Restinga, na zona sul de Porto Alegre, ele me relatou que em uma conversa informal com um vizinho, foi tocado no assunto da Dunna e este havia dito que seria o mecânico chefe da Simpala na época que esta moto estava a venda. Voltaram minhas esperanças.Em dia e hora marcado, fui rodando com minha Dunna ao encontro do Sr Elton, pena que não filmei a expressão dele quando ele viu a moto depois de passados quase 30 anos, parecia que ele estava reencontrando um membro da família que não via a muitos anos. Ele ficou sentado na calçada olhando e se emocionando, foram alguns segundos nesta contemplação.Recompondo-se, mas sem diminuir o fervor do momento, ele começou a me relatar detalhes que somente quem estava na linha de montagem saberia falar.Falou a respeito das adaptações feitas para receber estas rodas e pneus, falou a origem delas.Falou a respeito do escapamento.Falou a respeito do que tiveram de fazer no quadro.Falou do teste drive que foram fazer nas areias de Tramandaí, no litoral norte Rio-grandense.Falou a respeito desta carenagem de fibra que recobre toda a moto.Falou a respeito da suspensão.Falou a respeito das balanças.Falou que foram feitas apenas 06 (seis) unidades, sendo que foram 05 (cinco) motos e um triciclo.Uma das coisas que me surpreenderam foi que ele tinha recortes de jornal da época com reportagem da moto. Me ajudou muito para poder ter algum tipo de literatura.Já no final do nosso encontro ele me indagou que este exemplar seria o de 05 marchas, eu respondo que não. Que esta moto é de quatro marchas, todas para baixo.Pude perceber o semblante de espanto dele e também os poucos segundos que ele ficou em silencio e novamente se emocionou. Ele me contou que estávamos diante do primeiro exemplar feito.De acordo com o Sr. Elton, foi feito o primeiro exemplar com peças doadas de uma “CG Bolinha”, que o motor era equipado com uma caixa de 04 marchas, todas para baixo que ficava de exposição no show room da Simpala, todas as outras foram concebidas a partir da “ML”.E esta é a moto nº1.No slogan da moto ela era oferecida como a nova Trail Gaúcha, com o proposito de andar em terrenos lamacentos, barro, grama e em dunas. Suponho que as outras unidades devem ter ido para o nosso litoral, e lá foram deterioradas devido a maresia e corrosão. Arrisco-me a dizer que esta é a única sobrevivente.Carta enviada ao DETRAN/RSEsta motocicleta é uma série limitadíssima que a Simpala customizou entre os anos 1981 e 1983.A princípio ela foi idealizada para ser usada nas dunas do nosso litoral, e também lama e barro, devido a sua baixa altura e também os pneus largos, o que facilitava o deslocamento nestes terrenos, e também muito confortável de dirigi-la nas vias públicas.Fiz uma busca muito grande para conseguir literatura, ou folders da época, ou qualquer outra forma de divulgação da Honda Dunna, mas fui infeliz na mesma.Consegui nesta busca, através de indicações, chegar ao chefe de oficina da época que montava e custumizava as motocicletas, foi dele que consegui estes recortes de jornais onde era feita a propaganda da nova trail gaúcha.Incrivelmente sou o segundo proprietário desta motocicleta, e também consegui conversar bastante com o Sr. Gilberto Dulac, que foi quem comprou a moto na concessionaria. Ele me contou muitas histórias a respeito desta motocicleta, e de como foi adquirida. Venho por meio desta, encarecidamente pedir para que este pedaço da história não se perca em definitivo. Estas motos, como o próprio nome diz, foram para as dunas, e lá se perderam decorrente da maresia e da corrosão.Hoje em um País sem memória, onde os princípios da ética e da moral estão tão em baixa, venho pedir que seja atendido este meu pedido de emplacamento para que eu possa circular em vias publicas sem receio ao ser abordado por alguma autoridade, e desta forma, também seguir mantendo um pedaço da história automotiva brasileira e gaúcha!