Salão do Automóvel de Berlim. Ano: 1938. Adolf Hitler, num lance de propaganda política, apresenta o protótipo de um carro de passeio pequeno e barato, de formato peculiar, do qual todos os bons arianos poderiam desfrutar. Décadas mais tarde, esse mesmo automóvel o Fusca da Volkswagen é um dos bens de consumo mais amados do mundo.Para revelar como um carro encomendado pelo Führer (com o pré-requisito de que sobre seu chassi se pudesse instalar uma metralhadora) e projetado por Ferdinand Porsche se tornou uma excepcional commodity global, o historiador Bernhard Rieger examina cultura e tecnologia, política e economia, desenho industrial e geniais jogadas de marketing. Para além de sua qualidade e custo baixo, o sucesso do Fusca deveu-se à sua perturbadora habilidade de capturar a imaginação de pessoas em variadas nações e culturas. Na Alemanha Ocidental, veio a representar o 'milagre econômico' do pós-guerra e ajudou a impulsionar a Europa para a era da motorização em massa. Nos Estados Unidos, foi bem recebido nos subúrbios, e então eleito pela contracultura hippie como antídoto à conformidade. A seguir, popularizou-se no Terceiro Mundo, conquistando o México e a América Latina (triunfando sobretudo no Brasil), onde simbolizou uma robustez necessária para se viver em meio à instabilidade política e econômica.Utilizando abundantes fontes, O carro do povo apresenta um elenco internacional de personagens executivos e engenheiros, jornalistas e publicitários, operários da linha de montagem, colecionadores de carros e motoristas em geral que transformaram o Fusca em um ícone planetário. A história desse sonho de consumo mundialmente famoso lança luz sobre as origens, os desenvolvimentos e as persistentes desigualdades que caracterizaram a globalização no século XX.